quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Agosto de 2009 Editorial Samba-PunK - Cronica por Leonardo Di Marchi "Una noche inolvidable: Songoro Cosongo no Teatro Odisséia"

03/08/2009 às 20:14
Una noche inolvidable: Songoro Cosongo no Teatro Odisséia
Colaboração especial

Leonardo Di Marchi
http://www.sambapunk.com.br/category/cronicas

Você poderia ser louco por carros. Preocupar-se com velas, em trocar o óleo, com o tipo de gasolina que faria a máquina correr mais (ainda que boa parte do tempo destinado a dirigir seja reservada a ficar parado em engarrafamentos) ou coisa que valha. Mas se você tiver um pouco de inteligência e bom gosto musical, deve estar à procura de alguma boa novidade em meio a tanto mais do mesmo que se escuta por aí. Pois bem, preste atenção nesta jóia rara. Trata-se da banda Songoro Cosongo, que tocou no Teatro Odisséia, neste primeiro de agosto. Você deve estar pensando: ai, que inveja! Sim, pode ficar com inveja.

Na verdade, a noite começou com a apresentação da boa Le Garagem Hot Band, power-trio (baixo, guitarra, bateria) que toca música brasileira num clima de improvisação jazzística, lembrando os melhores momentos dos trios do tempo da bossa-nova. O único problema foi que esta apresentação começou, ou melhor, deve ter começado lá pelas 23h – aliás, conforme estava no convite. Parabéns para os organizadores da casa, que cumpriram o prometido! Só que, como o carioca sempre chega com pelo menos 30 minutos de atraso a qualquer evento (inclusive eu, que só peguei a metade-para-o-fim do show), o resultado foi que a banda se apresentou para meia dúzia de pessoas. Pior, a pontualidade da primeira apresentação contrastou com o considerável atraso do seguinte (causada, talvez, pela expectativa de uma lotação digna para a casa). De qualquer forma, o Garagem é uma banda para se acompanhar.

Finalmente, lá pelas tantas da madrugada, entrou no palco o Songoro Cosongo. Esta é uma banda formada por músicos brasileiros, argentinos, chilenos, venezuelanos, colombianos que vivem no Rio de Janeiro (http://songorocosongo.com.br/index.html). Sua proposta é pegar um pouco de ritmos latinos e conjugá-los à música brasileira para beber com cachaça. E, acredite, a mistura etílico-musical, batizada Psico Tropical Musik, cai muito bem.

Ainda não havia visto uma apresentação da banda – e, admito, estava bastante curioso. Pois bem, a impressão foi das melhores. Este não era o show de lançamento do segundo disco, “Psico tropical musik vol. II”, que, como o primeiro, “Misturado com cachaça fica muito bom”, foi lançado em formato SMD pela Bolacha Discos (http://www.myspace.com/bolachadiscos), mas faz parte da turnê – daí a atenção que dispensarei às músicas do novo álbum. Para uma banda que se propõe a misturar salsa, rumba, cumbia, baião, choro e algo mais, seria esperado que a apresentação fosse para lá de dançante. Porém, o que realmente chamou minha atenção foi o equilíbrio entre virtuosismo musical e espetáculo – aspectos que nem sempre são devidamente equalizados em bandas com números instrumentais. É o caso do marcado clima de baile que toma conta de canções como “Se siente bien”, “Santa pereza” ou “Nunca digas nunca”, em que a força da seção rítmica é bem temperada com belas melodias, cantos e improvisações na medida.

Mas o show está longe de ser alguma reedição do (excelente) Buena Vista Club. Estes músicos não apenas dominam com maestria a tradicional linguagem da música hispano-americana como também flertam com inovações. Há espaço para o reggae de “Canto da Lua” e instrumentos eletrônicos que imprimem certa psicodelia a seu material, como em “Prim prim hey”.

Mais do que isto, o Songoro Cosongo apresenta composições notáveis. Uma das que mais merece atenção é “Aventura nocturna”, do segundo disco. Com uma melodia atraente e um ritmo cativante, soa como um afro-cuban-jazz dos melhores. Em minha opinião, é uma preciosidade que merece ser uma daquelas músicas que chamamos de clássico. Funciona muito bem no disco e ao vivo.

A esta altura, torna-se desnecessário dizer que a apresentação mereceu não apenas elogios da crítica (neste caso, minha crítica especificamente). O público se divertiu e ovacionou o espetáculo de não sei quantos minutos, já que tudo estava tão interessante que o menos importante era a hora. Pena, aliás, o show não ter durado até a manhã seguinte. Sendo assim, fica aqui a dica. Então, pare de se preocupar em arranjar vaga para estacionar e preste atenção nesses caras!